METALLICA - Death Magnetic (2008)
sexta-feira, setembro 19, 2008
Dizer que havia grande expectativa rondando o lançamento de “Death Magnetic” é de um eufemismo quase absoluto. Tantos eram os sinais de um retorno do Metallica ao som mais Thrash do início de sua carreira que mesmo o mais empedernido “die-hard” engoliu em seco a lembrança dos últimos trabalhos e se pôs a esperar com ansiedade pelo lançamento do disco. E, para a alegria de muitos, não foi propaganda enganosa: “Death Magnetic” é o álbum mais tipicamente Metallica desde o “black album” e, mesmo não sendo a oitava maravilha do mundo, consegue recolocar nos trilhos a carreira de um gigante que muitos consideravam extinto.
Claro que o novo CD não pode ser seriamente comparado a obras seminais como “Master of Puppets” e “Ride the Lightning” – mesmo porque, sinceramente, quantos discos posteriores lançados por qualquer banda podem sobreviver a tal comparação? Os anos 80 não voltarão, e na verdade não creio ser isso o que o Metallica busca alcançar com esse disco. Eis, me parece, o mais difícil numa resenha de um disco como esse: tentar julgar o álbum pelo que ele é, e não pelo que se gostaria que ele fosse capaz de ser. Muito embora o próprio Metallica tenha meio que forçado um pouco essa comparação, adotando por exemplo alguns “cacoetes” na escolha da ordem das faixas no disco – a quarta música é a semi-balada que fica agressiva (como “One” e “Welcome Home”), a penúltima é um tema instrumental (à “Orion” ou “To Live is To Die”) e o encerramento é a música mais direta e veloz do disco (alguém gritou “Damage Inc.” ou “Dyers Eve”?). Nada que seja realmente prejudicial ou digno de crítica, apenas uma curiosidade que merece o registro.
Quanto a “Death Magnetic”, então. A abertura com “That Was Just Your Life” é, no mínimo, impactante: depois de uma breve vinheta com sons de um coração batendo, temos uma introdução climática conduzida pelas guitarras que desemboca numa porrada como há muito não se ouvia vindo do Metallica. Uma letra inteligente, riffs poderosos um atrás do outro, refrão forte... De fato, uma música que grita, para quem quiser ouvir, que o Metallica Thrash Metal está de volta. Difícil conter a empolgação e não abrir um sorriso ouvindo essa bela pérola do Thrash Metal.
Sensação, diga-se, que se mantém durante a maioria das dez músicas do CD. São no geral músicas longas (quase todas ultrapassando os sete minutos de duração), recheadas de riffs que se engancham uns nos outros e vão construindo uma massa sonora que tem um grande potencial para agradar os que se sentiam órfãos da banda desde o início dos anos 90 ou ainda antes disso. Entre os destaques, “All Nightmare Long” (que lembra mais o “black album” e tem um refrão excelente), “The Judas Kiss” (com um dos melhores solos de Kirk Hammett em muitíssimo tempo, além de vários riffs memoráveis), a furiosa “My Apocalypse” e “Broken, Beat and Scarred”, talvez a mais marcante de todas devido a sua linha vocal altamente “cantável” e aos bons arranjos de guitarra. “The Day That Never Comes” é a música de trabalho, um tema que começa com muita melancolia e evolui para uma paulada rápida e raivosa – é uma canção que de início não surpreende tanto, mas que vai crescendo com repetidas audições. “Cyanide”, por sua vez, é a mais “moderna”, remetendo fácil aos tempos de “ReLoad” – mas tem outro belo refrão e não soa tão deslocada assim no meio das demais. Talvez só “Suicide & Redemption” (o tema instrumental) e “The Unforgiven III” estejam um pouco abaixo do nível das restantes – embora estejam longe de serem realmente ruins, de qualquer modo.
Caso seja tão necessária assim uma referência no passado do Metallica, eu diria que esse novo disco remete especialmente a “...And Justice For All”, pelas estruturas complexas e pelo clima denso da maioria das composições. Alguns elementos do passado recente estão presentes, como as melodias vocais de James Hetfield e a temática melancólica de muitas letras, mas nada que desvie muito a banda de seu reencontro com a sonoridade Thrash. Robert Trujillo, tão elogiado pelos colegas pela participação no álbum, deve ter ficado um pouco ausente do processo de mixagem – pois em alguns momentos o baixo é virtualmente inaudível, sumindo na camada sonora das guitarras. A bateria, ao contrário, está alta até demais – o que, ao contrário de favorecer, acaba quase jogando contra o velho Lars Ulrich. Embora o desempenho geral esteja muito longe de ser sofrível, o fato é que o baterista parece não ter a mesma força que tinha anos atrás – e isso se reflete na criatividade de seus arranjos, que muitas vezes apelam para a simplicidade quando a música parece “pedir” algo mais complexo ou inventivo. Os motivos podem ser inúmeros, e listá-los aqui seria pura especulação – mas o fato é que, enquanto James Hetfield e Kirk Hammett parecem ainda capazes de tocar com a intensidade que o Metallica exige, para Lars a tarefa parece bem mais penosa, infelizmente.
É um disco muito esperado, e portanto poderíamos falar dele até semana que vem, se fosse o caso. Seja como for, “Death Magnetic” é um disco forte, coeso, bem construído e de belas composições – e assim merece ser visto, ouvido e apreciado. Compará-lo com os clássicos da banda pode ser inevitável, mas não deve ser feito para diminuir esse álbum – mesmo porque não parece pretensão de “Death Magnetic” soar “velho” ou “saudosista”, de modo algum. É um trabalho que, muito mais do que tentar resgatar a sonoridade dos tempos mágicos que não voltam mais, tenta se inspirar nela para encontrar um caminho para o futuro. E, diga-se, cumpre esse objetivo bastante bem.
METALLICA - Death Magnetic
Lançamento: 2008
Gravadora: Warner
Produção: Rick Rubin e Metallica
Faixas: 10
Duração: 74'41''
Formação: James Hetfield (V/G), Kirk Hammett (G), Rob Trujillo (B), Lars Ulrich (D).
posted by Natusch @ 7:31 PM,
3 Comments:
- At 9:48 PM, Vicente Fonseca said...
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Belas notícias, Natusch! Adquirirei certamente. Só faltou a nota pro disco. Abraço.
- At 3:37 PM, Vicente Fonseca said...
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The Day That Never Comes não te lembrou Fade to Black, Natusch? A mim, bastante.
- At 11:51 AM, said...
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Putz, esqueci da nota... Vou colocá-la hoje durante a tarde.
Sim, The Day That Never Comes me lembrou consideravelmente Fade to Black. Eu diria até que a abertura da canção é quase uma releitura do tema clássico dos anos 80.
E o refrão de "The Unforgiven III" é uma variação melancólica do refrão da tenebrosa "I Disappear". Pode conferir =P