quarta-feira, junho 20, 2007
O Ace of Spades retoma suas atividades com a resenha do inigualável Leonardo Cao "Ponsito" sobre o álbum Killers, do Iron Maiden. Deliciem-se com o texto descontraído do maior Air Guitar Player de Porto Alegre. Faça o mesmo, caro leitor, e mande sua resenha que a publicaremos!
Lembro com muito carinho da primeira vez em que escutei Iron Maiden. Estava eu, aos 11 anos de idade, numa festinha na sacada da casa de praia da minha vovó materna, sorvendo um singelo copo de, se bem me lembro, guaraná Fruki. Ignorado pela gata quente que almejava então, existencialismo pegado, sento-me sozinho num canto escuro do recinto. Eis que soa o Riff inicial de Wasting Love, estraçalhando um já combalido coração infantil e definindo na hora: sim, mais um cabeludo no mundo.
O certo é que depois de tanto tempo não tenho o mesmo tesão de escutar a maioria dos discos da Donzela. Talvez por ter escutado todos até a exaustão. A exceção é o álbum “Killers”, de 1981. Não tenho nenhum receio de afirmar que este é não apenas o melhor disco do Iron Maiden, e sim o melhor disco de Heavy Metal de todos os tempos. Chiem à vontade. “The Ides Of March” é a introdução perfeita para o massacre. Bateria marcial do gênio Clive Burr (claramente superior ao Nicko, que é um bom baterista), e linhas de guitarra que prenunciam o estilo épico que desembocaria no Metal Melódico anos depois. Em seguida, temos a mais furiosa música do Maiden, não por acaso, “Wratchild”. Sabemos da fama de beberrões dos rapazes ingleses (tem um vídeo deles num casamento em que eles arruínam com tudo, completamente borrachos), mas tenho certeza absoluta que, em 81, pelo menos o Steve Harris usava drogas muito pesadas. Suas linhas de baixo são fantásticas em todos os discos, mas a anarquia das linhas do “Killers” são insuperáveis.
“Murders in the Rue Morgue” trás à tona mais uma característica do álbum: letras sérias. Faraós e clarividentes teriam sua vez anos depois, mas gosto bastante das letras mais “cotidianas” dos dois primeiros discos. A única instrumental do álbum é uma das minhas preferidas. “Genghis Khan” alterna levadas mais compassadas com momentos de puro desenfreamento (neologismo meu). Clive Burr toca bateria como se estivesse despencando do estúdio. Ótimo trabalho do duo Murray/Smith também. Uma característica ímpar desta música é que ela é praticamente um solo do início ao fim, mas não há solos propriamente ditos. Genial.
Pois vejam só. Mesmo um disco que está quase furado pelo laser pode guardar algumas cartas na manga (homenagem singela ao querido Professor titular deste blogo). “Innocent Exile”, além de uma levadinha Zeppeliana em alguns momentos, possui solos excelentes. Cheguei a essa conclusão escutando o álbum de novo para este texto. Solo é uma coisa complicada. Se não for totalmente coerente com o clima e com o que a música tem a dizer, é um desperdício de notas. Aí está o Malmsteen, aquele fanfarrão Sueco, que não me deixa mentir.
A música “Killers” merece um parágrafo inteiro pra ela. Por mim, mereceria uma monografia, oitenta páginas defendendo a tese que todo e qualquer crime, fora estupro e pedofilia, cometido após a audição desta música, deveria ser automaticamente perdoado. Pensei diversas vezes em assassinar alguém após escutar isso. Em outras, saí correndo todo cagado de medo após a introdução. Vocês sabem do que estou falando.
E então chega a vez de “Prodigal Son”. Paradigma é a palavra que define esta música. Nada menos. Nada pode ser feito pelos caras depois disso. Engraçado um fã de metal e de Iron Maiden considerar a música menos barulhenta e mais “mimosa” de toda carreira da banda (perdão ao deus metal) a melhor de todas. Minha desculpa é apenas uma. O solo do Dave Murray, o primeiro da música (que muito tempo achei ser de autoria do Adrian “melhor guitarrista da história pós Hendrix e Vaughan” Smith) é o mais belo solo já executado. MUITAS lágrimas derramadas. Sinto o pó da estrada do desgosto cada vez que ouço este solo.
Pra finalizar, “Purgatory” e “Drifter”. Duas tijoladas de seis furos direto na fuça do cristão. O pedacinho do chorus com a letra “Please, take me away, so far away” em “Purgatory” é pura adrenalina. E o solinho de harmônicos todo estranho em “Drifter”, seguido do final com a ordem “I want you to sing it, sing it, sing it, sing along” fecha adequadamente este MASTERPIECE. Tenho seguido esta ordem do Paul Dianno com muito afinco. Sejam coerentes e sigam também.
posted by Vicente Fonseca @ 10:32 AM,
2 Comments:
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At 5:11 PM,
Ponso said...
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Esqueci de comentar que vi o Steve Harris mostrando, em uma entrevista, os múltiplos discos de esmeralda/rubi/platina/adamantium que os álbuns do Maiden haviam ganho durante os anos. Ao falar do Killers, ele disse alo como "este é um bom disco, mas foi muito mal gravado". Pois até nisso acho o Killers sensacional. Totalmente despretensiosa, mas sincera, a sonoridade do álbum, tal qual a do disco homônimo da Donzela, foge bastante da sonoridade pasteurizada dos últimos álbuns, por exemplo. Pronto, agora chega.
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At 10:45 PM,
said...
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Excelente resenha, meu rapaz. O final, em especial, é de extremo estilo e presença de espírito. Faltou apenas uma citação a "Twilight Zone", que aparece em algumas prensagens do disco. Para mim, dois minutos e meio que resumem de modo espetacular toda a NWOBHM. Disco absurdamente genial, talvez perca só para o Piece of Mind. Talvez.
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